Terça-Feira

pílulas semanais

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Editorial do Correio do Povo, 5 de junho de 2009

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Como o site é restrito para assinantes, leia aqui o editorial do Correio do Povo divulgado nessa sexta-feira. Alguém aí falou em tiros de bazuca?

O puxa-saquismo como virtude

‘Independente, nobre e forte – procurará sempre sê-lo o Correio do Povo, que não é orgão de nenhuma facção partidária, que não se escraviza a cogitações de ordem subalterna.’

Os leitores do Correio do Povo já conhecem este trecho do editorial da primeira edição do jornal, publicada em 1º de outubro de 1895, não só pela sua constante repetição em nossas páginas, mas, principalmente, pela postura dos profissionais que aqui trabalham e que respeitam este mandamento como um dogma espelhado em cada exemplar diário que chega à casa de nossos assinantes. Não foram poucos os dissabores que colhemos pela independência retratada em nossas páginas, subordinada apenas às aspirações da comunidade: perseguições governamentais, discriminação em investimentos, censura, tentativas de proibição de acesso a informações públicas e muitas outras artimanhas próprias de chefetes inconformados com o desnudamento de suas falcatruas e incompetências. A mais comum delas, no entanto, é a tentativa canhestra de identificar o Correio do Povo com uma ou outra corrente partidária, geralmente opositora daqueles aqui criticados.

Algo que não víamos havia décadas, porém, vem se repetindo com constância nos últimos anos. Trata-se do papel vergonhoso desempenhado por alguns veículos de comunicação que, não satisfeitos com seu próprio puxa-saquismo desenfreado, tentam transformar a bajulação em virtude e a independência de outros em defeito. Ataques comuns no início do século passado, quando a maioria dos jornais pertencia a partidos ou a governos e, portanto, comprometidos com seus patrões políticos, ao contrário do Correio do Povo, que já nasceu imparcial, voltam a ocorrer nestes novos tempos, como parte da estratégia global de suas matrizes, desesperadas com a perda da hegemonia monopolizante da comunicação social no país. Buscando parecer imparciais, o mais perto que chegam do que imaginam serem as tradições gaúchas é agir como o quero-quero, que grita bem longe de onde está o ninho verdadeiro.

Não é outro o caso do jornal Zero Hora, que desde a aquisição do Correio do Povo pelo Grupo Record vem fazendo uma campanha pérfida contra o jornal dos gaúchos com a publicação de notas e insinuações como a reproduzida ontem em sua coluna de ‘opinião política’, na qual tenta imputar comprometimento partidário ao Correio do Povo. E isso aconteceu na mesma edição em que aquele jornal omitiu importantes informações sobre a percepção dos gaúchos quanto à possibilidade de corrupção no governo estadual, como a de que uma parcela relevante dos entrevistados defende o impeachment da governadora, no âmbito de uma pesquisa do Instituto Datafolha cujos dados essenciais foram publicados com destaque pelo Correio do Povo.
O Correio do Povo tem uma história de mais de 113 anos a serviço da coletividade. Esta história diz por si mesma de nossos compromissos, reafirmados na íntegra pelo Grupo Record e dos quais jamais nos afastamos. É esta história que os gaúchos conhecem e que não precisa ser reescrita, ao contrário de outros, que, talvez por vergonha de seus próprios caminhos, estão sempre à espreita de uma mudança de rumos que coloque o Correio do Povo ao seu lado na senda indigna que eles escolheram.

Written by Luís Felipe

junho 5, 2009 at 2:08 pm

Publicado em edição extra

EDIÇÃO EXTRA: análise do debate dos candidatos à prefeitura de Porto Alegre, na Band, 18/09

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Excepcionalmente, o Terça-Feira publica este post na sexta, antes das pesquisas do final de semana e logo depois do debate da Band, ontem. A questão é que uma breve pesquisa entre as pessoas razoavelmente informadas sobre o processo eleitoral me mostrou que NINGUÉM viu o debate para a prefeitura de Porto Alegre ontem. Assim, acho necessário publicar as minhas impressões antes que elas fiquem obsoletas.

Uma vantagem dos debates da Band é a possibilidade dos candidatos dissertarem sobre temas livres. No passado, isto proporcionou momentos históricos, como o histórico embate entre Antônio Britto e Olívio Dutra em 1998 – “o meu oponente, representante do continuísmo, tergiversa”. O debate de ontem começou com a empresa cedendo espaço para representantes de classes (presidentes da OAB e da Câmara de Dirigentes Lojistas) perguntarem aos candidatos.
 
A partir do segundo bloco, o confronto direto. Tema livre, pergunta direta aos candidatos. No início deste bloco ocorreu uma conversa entre Carlos Gomes (PHS, trem-bala) e José Fogaça acerca das origens do Orçamento Participativo. Gomes teria sido o mentor da idéia lá no governo Collares (86-89) e Fogaça encontrou nisso uma excelente oportunidade para cutucar o PT. “O OP está plenamente consolidado, não é mais promessa de campanha. Não é uma bandeira partidária, e sim da cidade”, comentou o candidato à reeleição, tirando da manga de Maria do Rosário uma das principais cartas da campanha.
 
É importante destacar esta passagem por que ela revelou uma tendência do debate. Fogaça aproveitou muito bem a escolta de Carlos Gomes, neste momento, e de Nélson Marchezan Jr. Cabe uma consideração acerca de Marchezan. Sabendo ser um candidato um tanto inexpressivo na campanha e adotando a mesma tática de Cristóvam Buarque, como referido no último post sobre eleições, Marchezan não teve pudores em defender a administração de Fogaça. Em determinado momento, ao fazer uma pergunta para o atual prefeito, o candidato do PSDB pediu de Fogaça uma ANÁLISE CONJUNTURAL das eleições de Porto Alegre. Ao que Fogaça, no final da amena conversa, encheu o PPS – seu ex-partido e atual aliado da sua principal opositora, Manuela – de elogios.
 
Estava curioso para ver o embate entre Maria do Rosário e Manuela d’Ávila, logo após as pesquisas recentes que dão Manuela em pleno crescimento. O PT tende a ser um partido bastante seguro e até arrogante em debates, organizando um discurso geral quando na oposição – mas é novidade para o partido enfrentar um candidato de oposição mais forte em Porto Alegre. Ocorreram apenas dois embates diretos entre Manuela e Rosário, antigas aliadas de bancada quando no Congresso Nacional – uma pergunta de Rosário sobre o Araújo Vianna e uma pergunta de Manuela sobre as Parcerias Público-Privadas, pedida por Maria do Rosário. Em ambos, a candidata do PT atacou com força o PPS, aliado da comunista e partido de Berfran, Busatto e Paulo Odone. Em ambos, pesou a camiseta do PT e a experiência de Maria do Rosário.
 
Manuela não parecia muito à vontade fora do estúdio e dos palanques. Demonstrou alguma insegurança. Quando perguntada sobre o Araújo Vianna, falou da importância da revitalização e que vai convocar o Conselho Municipal para isso. Quando Rosário argumentou que o PT revitalizou o local e que o PPS teria privatizado o auditório, Manuela sentiu o golpe. Questionou a aliança do PPS com o PT em 61 cidades do Rio Grande do Sul. Rosário antes tinha dito como Manuela seguraria as “velhas raposas” com quem ela dividia o palanque, ao que Manuela respondeu que “quem representava a velha política era ela”.
 
Lembrem o que foi dito no final do quarto parágrafo. Os elogios de Fogaça ao PPS aconteceram logo após essa discussão. O eleitor ignorante mal sabe quem é o PPS e pouco lembra quem são Berfran e Busatto -porém, ele sabe o que é privatização. Manuela poderia ter contraposto Rosário com uma argumentação positiva em defesa do seu partido, mas resolveu argumentar com o velho “se eu sou suja, você é também”. Pega mal. Daí a intervenção de Fogaça mostra muita coisa – talvez a estratégia do PMDB seja levar Manuela como adversária no segundo turno, ao contrário do que preconizou Paulo Sant’ana.
 
No terceiro bloco, os candidatos pediam para algum outro candidato lhes fazer uma pergunta. Neste bloco, Onyx demonstrou que é o candidato mais disposto a confrontar Fogaça – bem mais que Maria e Manuela. Cobrou do prefeito reeleito a promessa não cumprida da Passagem Única, como fora dito em 2004. O atual prefeito não foi muito bem na sua resposta, dizendo que o projeto dos Portais da Cidade estava previsto para o próximo mandato – o que absolutamente não constava na promessa anterior. Foi praticamente o único deslize de Fogaça no debate, mostrando que a pasteurização da campanha deixou o atual governante com a guarda baixa para ataques mais incisivos. Onyx também criticou, no segundo bloco, o fato da prefeitura estar “abandonada”, com um líder que ninguém conhecia – João Batista, procurador do Estado, motivo de matéria na ZH de hoje. Fogaça pediu direito de resposta e argumentou – com razão – que Onyx, ao argumentar que o procurador não foi eleito por ninguém, desconhecia a Lei Orgânica do município.
 
No segundo embate entre Manuela e Rosário, a candidata comunista pediu para Rosário argumentar sobre a viabilidade do metrô em Porto Alegre e a importância das parcerias público-privadas para tocar o projeto. A petista ressaltou a importância do governo federal no projeto e argumentou, novamente, acerca da sua experiência e do conhecimento da capital. Manuela replicou falando que Rosário não poderia defender as PPPs se o PT votou contra isto na Câmara Municipal e que Maria do Rosário não poderia dizer que era dona “da verdade, dos projetos ou das emendas”. Ao que Rosário argumentou: “Não sou dona da verdade, mas tenho mais experiência”, levantando sua história de 15 anos com militante do PT e lembrando, inclusive, que o seu vice pediu o impeachment de Olívio Dutra.
 
Neste sentido, pontos a favor de Rosário. Primeiro por que levantou a bandeira de Olívio Dutra, um ícone de honestidade na capital. Depois por que além de adotar um discurso propositivo, conseguiu dar golpes certeiros, ao contrário dos de Manuela, que foram ignorados. Falta a Manuela a experiência necessária para encarar o ninho de cobras do debate televisivo. Em segundos, um minuto e meio, é necessário agredir com classe e ainda por cima sorrir para o tele-espectador. Manuela sorriu, mas não foi agressiva e foi menos segura que todos os demais candidatos.
 
Uma palavra sobre Luciana Genro: ela afirmou que os debates eram a sua carta na manga. De fato Luciana estava bem preparada nos debates, sorriu, agrediu os seus principais alvos (PT e Fogaça) e apresentou grande segurança. Só que a sua campanha carece de maior base, de concretude. Talvez a juventude do PSOL e a falta de bases afirmadas em todos os setores da sociedade prejudiquem o seu programa de governo. Isso sem falar na inexplicável chapinha nos cabelos, mas isso já é uma questão conceitual…
 
Considerações finais
 
Manuela cresce nas pesquisas e demonstra ser capaz de vencer José Fogaça no segundo turno. O DataFolha, porém, publicou uma pesquisa hoje mesmo dando empate entre ela e a petista. Acredito que a tendência é a campanha de Manuela cair nas retas finais, pois muitos dos seus eleitores não pensam nos contras da sua candidatura – inexperiência, relações partidárias, etc – e acabam votando pelo discurso positivo. A questão é se Manuela perderá eleitores para Fogaça – no segundo turno – ou para Maria do Rosário, no primeiro. Maria está demonstrando maior capacidade de pegar os votos dos eleitores que tinham uma tendência para a ex-líder da UJS, pois seu discurso é concreto e com uma agressividade moderada.
 
O problema é que ninguém mais assiste debates. Não há uma mobilização total como nos anos 90, e a mídia contribui com isso ao não repercutir as discussões que ocorrem em outras emissoras. O único debate que não passará despercebido é o último, na RBS, quando as perguntas serão sorteadas, sem a liberdade do debate da Band. Ou seja: tende a ser um programa bem pior que o de ontem.

Written by Luís Felipe

setembro 19, 2008 at 4:39 pm